sábado, 25 de fevereiro de 2012

Crônica do Amor



Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, 



simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por 



empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são 



só referenciais.  Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo 


tormento que provoca.  Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela 


fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu 



flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela 


tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no  ódio vocês 


combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do 



que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra 



no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. 


Ele não tem a  menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue 


despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita 


na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos 



irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem 


seu valor.  É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu 


corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta 


de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, 



criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação 



matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados. Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o 



Amor tem de indefinível.  Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons 


motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. 



Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. 


É a contingência maior de quem precisa.




Arnaldo Jabor

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