quinta-feira, 15 de abril de 2010

Noite, Maria Sá Carneiro

Quero compartilhar outro texto, muito bonito, de uma pessoa querida, que escreve com a alma!
imagem: google

Maria Sá Carneiro


Noite!

Espelho que me perseguiste noite fora, imagens distorcidas, agora gorda ora magra, ora comida pela doença, mãos disformes, olhos arregalados, perdidos de dor, olhar preso no passado/presente, olhos desmaiados na cor, esbatidos pelo medo do futuro. Essa dor de solidão, medo de não ter a quem contar, as minhas dores, os meus medos… Ou simplesmente não sentir o toque de uma mão aquecida por um sorriso franco e aberto, e não uma pena qualquer… Pena que gostava de ter força anímica para odiar, mas nem isso sou capaz. Fui sempre de convicções seguras e fortes, razões esclarecidas, resposta pronta e afiada, mas cansei-me e embrulhei-me neste estado vegetativo/solitário. Assim noite fora, esse espelho vai-me levando nessa viagem com cheiro intenso de não retorno, para o abismo. Inquieta vou-me mexendo e remexendo nessa cama/cela, onde me fazes sofrer! O dia teima em não nascer, apenas quero sair deste buraco negro, dessa solidão assustadora, quero ver a luz do dia, que me dê algum sentido para buscar algum alento, ora na luz, ora no mar, ora no sentir do simples pulsar da vida exterior. Não entendo porque me tentam levar, arrastar, já me entreguei há muito a essa força demolidora de simplesmente ser só! Vislumbro reflexos de imagens torcidas de gente que a vida me roubou, arrastou para o nada, de mim, Será que as vou alcançar nesse espaço negro, estendo a mão tentando estabelecer contacto com elas, mas o espelho impiedoso volta a meter-se na minha frente, impedindo-me de prosseguir, outra viragem abrupta, perdi noção dessa viagem diabólica… Vou tentado abrir os olhos, para me projectar para a vida.


Amanhece, o sol rompe pelas frestas da persiana, os passarinhos chilreiam.
Devagar abro os olhos em ti, sinto o cheiro da erva cortada, o sol desponta numa manifestação de alegria e vida. Finalmente vou acordando dessa noite comprida e sofrida! Lembro-me de ti, do teu sorriso que tanto tem de tímido como de alegria. Afinal ainda há vida, porque te encontrei!
M
Publicada por Maria Sá Carneiro em 3:49 PM

Nenhum comentário:

Postar um comentário