Eu li esse artigo e resolvi repassá-lo, pois é interessante e nos faz questionar a respeito de várias coisas.
O interessante é que ontem, no núcleo espiritualista que eu frequento às terças-feiras, foi falado de uma forma um pouco diferente, porém com o mesmo conteúdo dessa matéria.
Uma ótima leitura,
Deborah Jazzini
Adam Kahane
Foto publicada no site do Instituto Ethos
http://www1.ethos.org.br
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Administrar com sucesso um empreendimento está cada vez mais complicado, considerando-se os desafios socioeconômicos e ambientais que o mundo atravessa. A base de consumo não para de crescer, enquanto as terras e os recursos para ampliar a produção não param de encolher e o planeta dá sérios sinais de já não ser mais capaz de reciclar e tolerar os resíduos gerados por tantas atividades humanas.
Se uma empresa vai bem e sua demanda é crescente, ela precisa produzir mais. Ao ampliar suas atividades, ela gera mais empregos, beneficia mais famílias e contribui para a melhoria da economia como um todo. Para fazê-lo, contudo, ela consome mais recursos e energia, polui mais e gera mais resíduos. Muitas vezes, também precisa ocupar mais terras, que poderiam servir para a construção de moradias, agricultura ou reservas naturais.
Se ela não expande sua produção, pode gerar alta nos preços ou perder mercado para concorrentes e deixar de existir. Uma ameaça, aliás, sempre constante num mundo globalizado, onde a maioria dos consumidores ainda corre atrás dos preços mais baratos, sem avaliar se eles escondem baixa responsabilidade socioambiental, como más condições de trabalho ou uso inadequado de recursos naturais.
Como os executivos podem tomar melhores decisões num cenário tão complexo e em constante mudança? Para ajudar a encontrar respostas a essa questão, o Grupo Referencial de Empresas em Sustentabilidade (GRES), do Instituto Ethos, promoveu no dia 4 de fevereiro passado, em São Paulo, um diálogo com Adam Kahane, fundador da Reos Partners, organização internacional dedicada a apoiar e desenvolver capacidade para ações inovadoras em sistemas sociais complexos.
Com a experiência de quem atua na resolução de conflitos sociais de largo alcance desde os anos 80, Kahane iniciou a conversa lembrando que problemas complexos tendem a ficar emperrados e questionou por que isto acontece. Ciente da situação de executivos que se vêem pressionados entre as demandas de mercado e a urgência de incorporar e ampliar os cuidados socioambientais em suas operações, ele pergunta: “Como intensificar o movimento de responsabilidade socioempresarial atualmente”?
Kahane, um dos idealizadores do Exercício de Cenários utilizado na resolução dos conflitos na África do Sul nos anos 90, apresentou então, sua metodologia de resolução, envolvendo múltiplas partes e interesses (multistakeholders), baseada na visão sistêmica.
Coexistência de dois princípios
“Problemas simples podem ser avaliados e resolvidos peça por peça. Já os complexos demandam uma visão com base em sistemas. Pretender simplicidade não ajuda”, afirmou o estudioso. Seu método se apóia na identificação de duas forças sempre presentes em todo conflito: o impulso de autorrealização, com crescente intensidade e extensão, e o impulso de querer se conectar e interagir, fazendo parte do coletivo.
Kahane identifica o primeiro impulso como “poder” e o segundo como “amor”. “Nenhum desses impulsos irá embora. É preciso aprender a lidar com os dois” especificou. Assim, por meio de experiências tão diversas como negociações de paz entre israelitas e palestinos, discussões entre ambientalistas e a indústria de petróleo e a construção de soluções para a saúde infantil e finanças sustentáveis, ele recomenda uma primeira análise para identificar qual dos impulsos está se sobrepondo ao outro. “
Em situações onde há excesso de ‘poder’, os primeiros movimentos que adotamos são de ‘amor’, isto é, atividades que gerem conexão, que abram espaço para as partes se ouvirem e se perceberem de fato. A partir das semelhanças identificadas, cada parte passa a se importar também com as outras e podemos então avançar para cocriação de soluções possíveis”, explicou. Esse “amor” é, segundo ele, reunir coisas que já pertenciam uma à outra e só não conseguiam ver os pontos em comum. É reunificar o que é uno e só aparenta estar fracionado.
No caso oposto, onde há excesso de “amor”, sua visão recomenda diferenciar o que se quer deixar crescer e se estender e o que parar de alimentar; analisando com objetividade, de forma a fazer essa definição. Amor em excesso impede a ação e o avanço para mudanças, a evolução, inclusive da própria fonte desse apego superprotetor, definido por Kahane como “amor degenerativo”.
“O segredo é trabalhar com os dois princípios como se fossem duas pernas. Sem uma delas fica difícil caminhar”, exemplificou, enfatizando que se trata de um dilema, e não de uma escolha, entre a irresistível atração do poder (da autorrealização) e o imutável objeto do amor (da conexão e ação pelo outro). “Impor-se a utilização de apenas um dos campos traz o desequilíbrio. O segredo é obter um bom balanço entre ambos.”
O equilíbrio interior constrói o exterior
Para aplicar esse balanço no campo exterior é necessário tê-lo conquistado dentro de si mesmo. “Primeiro, torne-se ciente de como utiliza o amor e o poder dentro de si mesmo. Depois, fortaleça o lado mais fraco, menos desenvolvido em você, e pratique caminhar com as ‘duas pernas’, utilizando todo o seu amor e todo o seu poder sem tentar fundi-los numa coisa só”, recomendou o especialista.
Ele ainda acrescentou que muitas vezes hesitamos em utilizar o poder por medo de ferir e tememos expressar o amor por receio de sermos feridos. “É preciso praticar e praticar, mesmo nos sentindo amedrontados. Não espere seu medo ir embora. O caminho se faz enquanto caminhamos”, concluiu.
Suas colocações suscitaram diversas reflexões, como a de que o medo, na verdade, é útil, por nos trazer limites saudáveis. Ou o fato de, por medo, delegarmos poder a “salvadores”, abrindo mão de nosso próprio fortalecimento.
Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, lembrou que a carreira de Adam Kahane está marcada por negociações em que esse equilíbrio surgiu. Contudo, em muitas delas, a sobrevivência das partes envolvidas estava, de fato, em perigo. Essa ameaça gerou disposição para a busca do entendimento. Assim, ele encerrou o encontro deixando uma pergunta para reflexão: “Quão próximo a humanidade terá que estar de uma sobrevivência ameaçada para gerarmos um novo padrão civilizatório?”.
O GRES foca na busca desse novo padrão e esse será também o tema da próxima Conferência Internacional de Empresas e Responsabilidade Social, que convida a pensar sobre “O Mundo sob Nova Direção. Sustentabilidade: o Novo Contrato da Sociedade com o Planeta”. A conferência, que é promovida anualmente pelo Instituto Ethos, ocorrerá entre os dias 11 e 14 de maio, em São Paulo. Para inscrever-se ou obter mais informações, acesse www.ethos.org.br/ci2010/.
Sobre Kahane
No final da década de 1980, Adam Kahane encabeçou os Cenários Sociais, Políticos, Econômicos e Tecnológicos, da Royal Dutch Shell, em Londres. Em 1991, viajou para a África do Sul para facilitar o influente Exercício de Cenários de Mont Fleur, no qual um grupo diversificado de líderes do país usou a abordagem dos cenários não só para estudar e adaptar-se ao futuro, mas também para moldá-lo.
Desde então, ele tem liderado, ao redor do mundo, o desenvolvimento e aplicação dessa abordagem de criação multistakeholder para endereçar sistemas sociais altamente complexos. Além de sócio da Reos Partners, no escritório de Cambridge, em Massachusetts (EUA), Kahane é associate fellow do Instituto James Martin para Ciência, Inovação e Sociedade, da Saïd Business School, da Universidade de Oxford.
Por Neuza Árbocz (Envolverde) / Edição de Benjamin S. Gonçalves
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